segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Os buscadores e as buscadoras de Deus (III)

Os buscadores e as buscadoras de Deus procuraram e encontraram a Deus, cada qual em seu próprio contexto de vida. Eles apresentam diversas situações a partir das quais o ser humano é interpelado por Deus.
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Martinho Lutero (1483-1546), ao longo de toda a vida, volteou o Deus misericordioso. A época de Lutero estava marcada por uma intensa sensação de culpabilidade.  Para ele, a experiência de Deus  aconteceu em meio à vida. Para ele, Jesus Cristo ressurgiu de maneira nova como aquele que lhe transmite: tu és aceito e amado incondicionalmente. Foram-te perdoadas todas as culpas. Para de culpabilizar-te. Lutero encontrou sua própria humanidade e miserabilidade. Ele redescobriu a Palavra da Sagrada Escritura como Palavra de Deus para nós, como Palavra de consolo, de estímulo, de amor e de misericórdia. A experiência que Lutero fez da misericórdia de Deus infunde-nos a coragem de assumir nossa própria indigência, sem por isso desmoronar, mas, a partir dela, contemplar a misericórdia de Deus, que nos soergue e nos faz felizes.
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Como posso satisfazer a Deus? Na condição de pecador, como posso manter-me na presença de Deus? 
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Para Lutero, contava apenas a correta interpretação do Evangelho (sola scriptura - sola fide - sola gratia - solus Christus: unicamente - por meio - da Escritura, somente por meio da fé, somente por meio da graça, tão somente Cristo).
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A justiça de Deus revela-se no Evangelho. Ele odiava justamente esta expressão "justiça de Deus", porque  fora ensinado, pelo uso e pelo costume de toda doutrina, a compreendê-la filosoficamente a partir da justiça formal ou ativa (conforme era chamada), segundo a qual Deus é justo e castiga os pecadores e injustos.
Não conseguia amar o Deus justo, castigador dos pecadores; ao contrário, chegava até mesmo a odiá-lo. Quando, como monge, vivia sem mácula, sentia-se, no entanto, pecador diante de Deus, e sua consciência muito o atormentava. E mesmo que não se insurgisse em difamações contra Deus, em segredo resmungava violentamente contra ele: como se já não bastasse que os miseráveis pecadores, eternamente perdidos mediante o pecado original, estivessem sobrecarregados pela lei do Decálogo com todo tipo de infortúnio, Deus ainda devia, pelo Evangelho, acumular lamentação sobre lamentação e, também segundo o Evangelho, ameaçar com sua justiça e sua ira?
"Eis que Deus teve misericórdia de mim"... começou a compreender a justiça de Deus como aquela pela qual o justo vive como pelo dom de Deus, isto é, a partir da fé. Toda a Escritura mostrou-lhe uma face completamente diversa. 
A única coisa que o interessa é que o Senhor envie sua graça aos seus projetos, que para Ele o oriente...


Extraído de Grün, Anselm. O encontro com Deus: experiências de fé de grandes nomes da História. 2. ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 2014. p. 17, 61-73 .

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