sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Os buscadores e as buscadoras de Deus (II)

Os buscadores e as buscadoras de Deus procuraram e encontraram a Deus, cada qual em seu próprio contexto de vida. Eles apresentam diversas situações a partir das quais o ser humano é interpelado por Deus.
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Gertrudes de Helfta (1256-1302), órfã, aos cinco anos de idade, foi acolhida sob custódia das monjas cistercienses (Thüringen). Recebeu, portanto, desde a infância, uma formação religiosa. No entanto, também Gertrudes foi tocada por Cristo em seu caminho. Ela foi lançada para fora dos trilhos de sua segurança religiosa e, de repente, fez uma experiência pessoal do amor de Deus. O amor de Deus tornou-se experimentável para ela no coração de Jesus. Gertrudes responde à nossa ânsia de também experimentar o que celebramos na liturgia, de fazer na liturgia a experiência mística da união com Deus, com Jesus Cristo, e de ser transformados por seu amor.
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Mediante tua graça, levaste minha alma a conhecer a mim mesma, o mais íntimo do meu coração e, desde então, a ponderar com precisão... De modo geral, tudo em meu íntimo era tão confuso, tão desordenado e caótico, que para ti, que querias ali habitar, não havia morada.
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Assim, agiste em mim, e assim despertaste minha alma... deste o começo e guiaste. E orientaste também o fim dessa reflexão para ti, pois me inspiraste: eu deveria retribuir somente a ti tua graça, transbordante com a gratidão que te era devida... eu deveria desvencilhar todos os sentidos corporais dos clamores do mundo exterior e, livre espiritualmente, existir somente para ti;  se eu assim o fizesse, então meu coração te ofereceria uma agradável moradia.
Durante todo o dia meu espírito ficou preso a esses pensamentos. À noite, antes de ir dormir, ajoelhei-me, como de costume, para a oração da noite, quando, de repente, me veio à mente aquela passagem do Evangelho de João que diz: "Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada" (João 14:23).
Naquele momento, senti-me reviver em meu coração: Tu me havias chegado.
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Tu, força invencível, fizeste com que eu, um vaso de barro, tirado da terra, apesar de minha própria culpa e falha, corrompido e rejeitado, no entanto, unicamente por tua graça, fosse transformada em vaso de precioso bem.
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Tu desejas aprimorar-nos, a fim de conduzir-nos à nossa salvação.
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Agradeço-te por tua misericórdia, por tua paciência e longanimidade. Ao longo dos anos, cuidaste de mim, embora eu, desde a infância até o vigésimo quinto ano de vida, tenha vivido em cega insensatez. 
... mediante minha vida repreensível e desleixada, causei danos à tua glória, pois todas as criaturas e, portanto, eu também, devemos louvar-te e agradecer-te em cada momento. O que hoje experimento a esse respeito, comovida no mais íntimo do coração por tua graciosa simpatia, somente tu o sabes.
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Tu, verdadeira Luz, que brilhas nas trevas, não puseste um fim somente à noite de minha confusão, mas também ao dia de minha temeridade juvenil, ao ocaso de minha incerteza espiritual. Em amigável e cordial união, tornaste-me digna de teu conhecimento e de teu amor; conduziste-me para o meu íntimo - até àquela hora, este me era desconhecido. Então começaste a agir em mim, de maneira maravilhosa e cheia de mistério.
E me visitaste com frequência, em diversas horas, de várias maneiras... E daquela hora até agora, em nenhum momento estiveste longe do meu coração ou estranho a ele; eu sabia que estavas sempre presente, tão logo me voltasse para ti no meu íntimo. Agradeço-te por teres feito morada em meu coração...
Dentre todos os dons da tua graça, dois são preciosíssimos para mim: gravaste em meu coração os sinais mais dignos de veneração de tuas chagas salvíficas e o feriste para sempre com o estigma do amor. E se, além dessas graças, jamais me tivesses concedido outra consolação adicional, interior ou exterior, mediante estas duas já me fizeste infinitamente feliz; e  caso minha vida durasse mil anos, em cada hora eu seria conduzida e consolada por estes dois dons, e te agradeceria por isso em cada respiro.

Extraído de Grün, Anselm. O encontro com Deus: experiências de fé de grandes nomes da História. 2. ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 2014. p. 16, 51-60 .

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