Precisamos aprender a perceber que o amor de Deus nos procura em cada situação e visa ao nosso bem. Seu amor imperscrutável busca o nosso despertar.
A mente presa a ideias convencionais e a vontade cativa de seu próprio desejo não podem aceitar as sementes de uma verdade que lhes é estranha e de um desejo sobrenatural. De fato, como posso receber as sementes da liberdade se estou enamorado da escravidão, e como abrigar em mim o desejo de Deus se estou cheio de outro desejo, que lhe é oposto? Deus não pode plantar sua liberdade em mim porque sou prisioneiro e nem sequer desejo ser livre. Amo meu cativeiro e eu mesmo me aprisiono no desejo das coisas que odeio, e endureci meu coração contra o verdadeiro amor. Preciso, pois, aprender a me desfazer das coisas familiares e ordinárias e a consentir no que é novo e estranho para mim. Tenho de aprender a "deixar-me" para poder me encontrar ao me render ao amor de Deus.
Pois é o amor de Deus que me aquece ao sol e o amor de Deus que envia a chuva fresca. É o amor de Deus que me nutre do pão que como e Deus que também me alimenta com a fome e o jejum. É o amor de Deus que manda os dias de inverno em que sinto frio e estou enfermo, e também o verão quente quando trabalho e minha roupa está encharcada de suor. Deus sopra sobre mim o vento leve do rio e a brisa do bosque. Seu amor estende a sombra das árvores sobre minha cabeça e envia o menino com um balde de água da fonte, à beira dos campos de trigo, enquanto os lavradores repousam e suas mulas estão sob as árvores.
É o amor de Deus que me fala nos pássaros e riachos; mas, por trás do clamor da cidade, Deus também me fala em seus julgamentos. E todas essas coisas são sementes que me são enviadas por sua vontade.
Se essas sementes se enraizassem em minha liberdade, e se sua vontade crescesse nela, eu me tornaria o amor que Ele é, e minha colheita seria sua glória e minha própria alegria.
Minha preocupação principal não deve ser encontrar prazer ou sucesso, saúde ou vida, dinheiro ou repouso, nem mesmo coisas como a virtude e a sabedoria - menos ainda seus opostos: dor, fracasso, enfermidade, morte. Mas, em tudo que acontece, meu único desejo e minha única alegria devem ser saber: "Aqui está o que Deus quis para mim. Nisto encontro o seu amor e, aceitando isso, posso retribuir seu amor e, com este, dar-me a Ele. Pois ao dar-me a Ele, eu o encontrarei, e Ele é vida eterna".
Assentindo com alegria na vontade de Deus e cumprindo-a com satisfação, tenho seu amor em meu coração, pois minha vontade é agora o mesmo que seu Amor e estou a caminho de me tornar o que Ele é, e Ele é Amor. Aceitando dele todas as coisas, recebo sua alegria em meu coração, não porque as coisas sejam como são, mas porque Deus é quem Ele é, e seu amor quis a alegria para mim em todas elas.
Merton, Thomas. Novas sementes de contemplação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. p.28-31.
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