quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Minha alma tem sede de ti

... o homem é, segundo o pensamento de santo Agostinho, como uma seta disparada para um universo (Deus) que, como centro de gravidade, exerce uma atração irresistível, e quanto mais se aproxima desse universo, maior velocidade adquire. Quanto mais se ama a Deus, mais se quer amá-lo. Quanto mais conversamos com ele, mais vontade temos de com ele conversar. A atração para ele está na proporção da proximidade com ele.
Sem percebê-lo, sob todas as nossas insatisfações, corre uma torrente que se dirige para o Um, o único Um capaz de concentrar as forças do homem e de acalmar suas quimeras.
Ó Deus, tu és o meu Deus, por ti madrugo, minha alma tem sede de ti, minha carne anseia por ti como terra ressequida, esgotada, sem água (Salmo 62).
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Deus não muda. É definitivamente pleno, portanto, imutável. Está, pois, inalteravelmente presente em nós e não admite diferentes graus de presença. O que realmente muda são nossas relações com ele, conforme nosso grau de fé e amor. A oração torna mais firmes essas relações, produz uma penetração mais entranhável do Eu-Tu, através da experiência afetiva e do conhecimento fruitivo. E a semelhança e a união com ele chegam a ser cada dia mais profundas.
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Na medida em que o contemplador avança nos mistérios de Deus, Deus deixa de ser ideia para converter-se em Transparência e começa a ser Liberdade, Humildade, Prazer, Amor e, progressivamente, se transforma em Força irresistível e modificadora, que tira todas as coisas de seus lugares: onde havia violência, põe suavidade; onde havia egoísmo, põe amor e muda por completo "a face" do ser humano. 



Extraído de Larrañaga, Inácio. Mostra-me o teu rosto: caminho para a intimidade com Deus. 29 ed. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 19-30.

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