A oração e o amor se aprendem na hora em que a oração se torna impossível e o coração vira pedra.
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Quem nunca teve distrações não sabe orar. Pois o segredo da oração é a fome de Deus e da visão dele. Fome que está em um plano mais profundo do que o nível da linguagem e dos afetos. E que é perseguido pela memória e a imaginação com uma multidão de imagens e de pensamentos inúteis e às vezes até maus, pode ser forçado a orar muito melhor, nas profundezas de seu coração aflito, do que alguém cuja mente está nadando em conceitos claros, propósitos brilhantes e atos fáceis de amor.
Por isso é inútil se perturbar ao não conseguir se livrar das distrações. Em primeiro lugar, é preciso perceber que estas muitas vezes são inevitáveis à vida de oração. A necessidade de se ajoelhar e suportar submergir em uma forte onda de imagens loucas e absurdas é uma das provações comuns da vida contemplativa. Se você achar que é obrigado a se defender dessa invasão utilizando um livro e se agarrando a suas frases como alguém que, ao se afogar, agarra-se a destroços, pode fazer isso; mas se permitir que a sua oração degenere em um período de simples leitura espiritual, estará perdendo muitos frutos. Seria muito mais proveitoso resistir pacientemente às distrações e aprender algo sobre sua incapacidade e desamparo. E se o seu livro se tornar apenas um anestésico, longe de ajudar a meditação, a destruirá.
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[...] a vontade de orar é a essência da oração, e o desejo de encontrar a Deus, de vê-lo e amá-lo, é a única coisa que importa. Se tiver o desejo de conhecê-lo e amá-lo, já fez o que era esperado de você, e é muito melhor desejar a Deus sem ser capaz de pensar claramente nele do que ter pensamentos fabulosos sobre Ele sem desejar unir-se à sua vontade.
Por mais distraído que você possa estar, ore com esforços pacíficos, talvez até inarticulados, para centrar o seu coração em Deus, presente em você, apesar de tudo o que possa estar passando pela sua mente. A presença dele não depende de que os seus pensamentos estejam nele. Ele está infalivelmente presente, se não estivesse, você nem poderia existir. A lembrança de sua presença infalível é a âncora mais segura para nossa mente e nosso coração na tempestade de distrações e tentações, por meio das quais temos de ser purificados.
Merton, Thomas. Novas sementes de contemplação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. p.204-207.
Merton, Thomas. Novas sementes de contemplação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017. p.204-207.
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