terça-feira, 13 de novembro de 2018

Caminho de Perfeição - Teresa D'Avila


Teresa D’Ávila ou Teresa de Jesus (Espanha,1515-1582), carmelita descalça, representa um dos pontos altos da mística cristã. Seus momentos poéticos mais altos constituem uma celebração mística do amor divino. Sua influência, como mística e como poeta, atravessou séculos e deixou marcas, entre outros, no seu contemporâneo Juan de la Cruz (no Brasil,  João da Cruz), em Leibniz e em Bataille. 

"Lutai como fortes até morrer no combate. 
Não estais aqui para outra coisa, senão para pelejar"

Não vos espanteis das muitas coisas que é necessário considerar antes de iniciar esta viagem divina, caminho real para o céu. Indo por ele, ganha-se inestimável tesouro. Não é muito que, a nosso parecer, custe caro. Tempo virá em que se entenda como tudo é nada em comparação de tão grande prêmio.
Voltando agora aos que o querem seguir sem parar, até o fim, até chegar a beber desta água de vida, direi como se há de principiar.
Importa muito, e acima de tudo, uma grande e firme determinação de não parar até chegar à fonte de água viva, venha o que vier, suceda o que suceder, custe o que custar, murmure quem murmurar, quer chegue ao fim, quer morra no caminho, ou falte coragem para os sofrimentos que nele se encontram. Ainda que o mundo venha abaixo havemos de prosseguir. (...)
Por conseguinte, nada de temores. Nunca façais caso da opinião alheia. Olhai que não estamos em tempo de se dar crédito a todos, mas só aos que realmente se conformam à vida de Cristo. Procurai a limpeza de consciência e humildade, desprezo de todas as coisas do mundo e fé inabalável no que ensina a santa igreja. Ficai seguros de estar no bom caminho. Deixai-vos de temores, repito, onde não há que recear. Se alguém procurar assustar-vos, declarai-lhe humildemente vosso caminho.



Extraído de Jesus,Santa Teresa de. Caminho da Perfeição. Paulus Editora, 1979. capítulo 21.



Vossa sou, para vós nasci:
Que quereis fazer de mim?

Soberana Majestade
E Sabedoria Eterna,
Caridade a mim tão terna,
Deus uno, suma Bondade,
Olhai que a minha ruindade,
Todo amor, vos canta assim:
Que quereis fazer de mim?

Vossa sou, pois me criastes,
Vossa, pois me resgatastes,
Vossa, pois me atraístes
E porque me suportastes;
Vossa, pois me esperastes
E me salvastes, por fim:
Que quereis fazer de mim?

Que quereis fazer de mim?
Eis aqui meu coração:
Deponho-o em vossas mãos:
Minhas entranhas, minha alma,
Meu corpo, vida e afeição.
Doce esposo, meu Redentor,
A vós entregar-me vim:
Que quereis fazer de mim?

Que quereis, pois, bom Senhor,
Que faça tão vil criado?
Que missão que haveis dado
A este escravo pecador?
Amor doce, doce amor,
Vede-me aqui, fraca e ruim:
Que quereis fazer de mim?

Dai-me a morte, dai-me a vida,
A saúde ou a doença
Dai-me honra ou desonra
A guerra, ou a maior paz,
A fraqueza ou a paz plena,
A tudo isso, digo sim:
Que quereis fazer de mim?

Vossa sou, para vós nasci:
Que quereis fazer de mim?

Vossa sou, para vós nasci - Teresa d'Ávila

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