segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A Aliança de Lugar e a Aliança de Preparo do Coração

* Nós também precisamos estar ancorados em algum lugar.
A aliança de lugar concede-nos a dádiva da concentração.
... encontre um lugar de concentração - um sótão, um jardim, um quarto pouco usado, um ático ou mesmo uma poltrona preferida - um local afastado da rotina diária e livre de distrações. Permita que esse local se torne sua "tenda do encontro".
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A aliança de lugar inclui compromisso com a comunidade. Somos parte  de um povo; identificamo-nos com ele e estamos comprometido com ele. Alguns têm seu mentor espiritual, alguém que está em sintonia com eles na caminhada com Deus. Outros se reúnem em pequenos grupos - uma igreja dentro de outra - dividindo responsabilidades e sustentando-se mutuamente.
Lembre-se, no entanto, de que a comunidade é uma dádiva. Não podemos simplesmente fazê-la acontecer por meio de arranjos logísticos... Nossa aliança, todavia, prevê sua existência, procura sempre torná-la visível e promove seu desenvolvimento.

* Precisamos ter "o melhor preparo do coração", diz Richard Baxter. Qualquer um sabe que a linguagem corporal revela nossos sentimentos mais íntimos. Baxter estimulava o povo a buscar a Deus de maneira desinibida, de modo que os mais profundos sentimentos pudessem vir à tona.
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Podemos fechar os olhos em sinal de reverência ou olhar para cima em atitude de louvor e devoção. Podemos erguer as mãos, bater palmas ou ficar de mãos postas. Podemos chorar, rir, cantar, gritar. Podemos nos ajoelhar em silenciosa contemplação e adoração. Podemos também preparar o coração pelo cultivo da "santa expectativa". 
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Ouvimos em total silêncio a voz do Senhor.
Outro meio de preparar o coração para entrar na atemorizante presença de Deus é a disciplina da língua. É muito mais apropriado chegar em absoluto silêncio à presença do Senhor da eternidade que correr para sua presença com o coração e a mente arrevesados (1) e a boca cheia de palavras (Habacuque 2:20).
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A preparação de nosso pequeno santuário particular pode induzir nosso coração a adorar.
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A ideia é utilizar todos os meios disponíveis que conduzam à doxologia, tudo o que existe em nosso interior: "Bendiga o Senhor a minha alma! Bendiga o Senhor todo o meu ser!" (Salmo 103:1).
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A oração para encontro é nosso encontro especial com Deus. Podemos nos sentir à vontade porque estamos entrando no verdadeiro lar do nosso coração.
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Ficamos felizes em gastar nosso tempo com Deus, porque sua companhia muito nos agrada.


(1) Arrevesado é o mesmo que difícil, obscuro, ininteligível.


Extraído de Foster, Richard. Oração: o refúgio da alma. São Paulo: Editora Vida, 2008, p.114-117.

sábado, 5 de janeiro de 2019

A Aliança do Tempo

A oração da aliança não nos conduz apenas ao compromisso geral da santa obediência. Ela também nos conclama a resoluções menores. Richard Baxter aconselha-nos a buscar "o tempo mais adequado para orar, o lugar mais adequado para orar e o melhor preparo do coração" para orar. Isso estabelece regras da oração de aliança.
A aliança de tempo significa compromisso com uma experiência regular de oração. Em sua Regra, Bento de Núrsia insiste na regularidade da oração porque ele não desejava que seus seguidores esquecessem quem estava no comando. Os cristãos devotos estão sujeitos a  um risco ocupacional: confundir sua obra com a obra de Deus. É muito fácil trocar "esta obra é importante" por "eu sou importante". Tendo profunda compreensão dessa realidade, Bento de Núrsia convocava seus seguidores para a oração a intervalos regulares durante o dia - bem no meio de uma tarefa aparentemente urgente e importante. Nós também descobriremos que o compromisso com a oração regular fará malograr tanto nossa presunção quanto os ardis do Diabo.
O que é regular, então? Dependerá de você: sua personalidade, suas necessidades. Pelo antigo padrão hebreu, significava orar três vezes ao dia - de manhã, à tarde e à noite.
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Muitos já descobriram seu momento mais produtivo - quase sempre de manhã cedo. "De manhã, Senhor, ouves a minha voz...", declara o salmista (Salmo 5:3).
Devemos ser cuidadosos aqui, a fim de não depositarmos um fardo impossível de carregar sobre ninguém.
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Não podemos presumir que esse tempo se abrirá diante de nós como num passe de mágica. Jamais teremos tempo para orar: devemos criar esse tempo.
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Jamais justifiquemos, por exemplo, nossa falta de oração com a desculpa de que estamos sempre "orando em espírito". John Dalrymple observa, com muito acerto: "A verdade é que só aprendemos a orar o tempo todo e em todo lugar depois que resolutamente dedicamos à oração um pouco de tempo em algum lugar".
Assumir a responsabilidade com outros cristãos ajuda bastante.
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Estou certo disto: sempre haverá alguma coisa tentando afastá-lo dessa hora sagrada. O telefone tocará. A caneta falhará. Alguém baterá à porta. De repente, algo que você deixou inacabado há anos terá de ser concluído com urgência. Numa fração de segundo, você terá de decidir sozinho se permanecerá em seu santuário interior ou se abandonará o santo lugar, cedendo à tirania da urgência.



Extraído de Foster, Richard. Oração: o refúgio da alma. São Paulo: Editora Vida, 2008, p. 110-114.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A Aliança da Santa Obediência

A primeira forma de corresponder  à oferta do amor de Deus é pela aliança da santa obediência. Sem reservas, prometemos atender ao mais suave sussurro do Pai. 
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Não seremos capazes de praticar uma única boa ação se Deus primeiro não nos der o desejo e a capacidade de realizá-la - mas esse é justamente o ponto. Deus está lhe dando esse desejo. Você não estaria lendo estas palavras se o desejo não estivesse borbulhando dentro de você. Além disso, ele jamais daria a alguém o desejo de fazer algo sem lhe dar também a capacidade de obedecer.
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Podemos... cultivar o hábito de ter a mente e o coração concentrados em Deus. Enquanto cuidamos dos afazeres do dia, interiormente nos mantemos próximos do Centro divino. A cada  oportunidade, elevamos nossa mente à presença de Deus com petições e confissões silenciosas: "Misericórdia, Senhor!"; "Eu te amo, Jesus!"; "Mostra-me teu caminho neste dia". Mais ainda, vamos pousando a mente no coração, em silenciosa admiração, adoração e louvor.
Então passamos a obedecer a Deus em tudo o que podemos e em tudo o que sabemos. Vamos aprender a oração de Elizabeth Fry: "Oh, Senhor! Permite que eu seja cada vez mais individual, simples e totalmente obediente no teu serviço".
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A. W. Tozer escreveu: "Buscamos a Deus unicamente porque ele primeiro colocou um anseio em nós que nos impele a buscá-lo".
Aqui reside a beleza disso tudo: a descoberta de Deus somente aprofunda e intensifica a busca. Sentimos o gostinho da obediência e logo queremos mais. "Provem, e vejam como o Senhor é bom...", convida o salmista (Salmo 34:8).
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Bernardo de Claraval expressa em verso esse vício santo:
Nós te provamos, ó Pão vivo,E por muito tempo nos deleitamos em ti:Nós bebemos de ti, ó Manancial,E nossa alma anseia saciar-se em ti.

... a obediência tem meios de fortalecer mais que de exaurir nossos recursos. Se obedecermos numa pequena área, teremos poder para obedecer em qualquer lugar. Obediência produz obediência. 
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Aprendemos a obediência na paciência inabalável diante de crianças travessas. Aprendemos a obediência  da absoluta benevolência para com as frustrações, os medos e a dor da esposa. Aprendemos a obediência  de ficar em paz na expectativa de fatos que estão além de nosso controle. Essa é a aliança da santa obediência.


Extraído de Foster, Richard. Oração: o refúgio da alma. São Paulo: Editora Vida, 2008, p. 107-110.