Teresa D’Ávila ou Teresa de Jesus (Espanha,1515-1582), carmelita descalça, representa um dos pontos altos da mística cristã. Seus momentos poéticos mais altos constituem uma celebração mística do amor divino. Sua influência, como mística e como poeta, atravessou séculos e deixou marcas, entre outros, no seu contemporâneo Juan de la Cruz (no Brasil, João da Cruz), em Leibniz e em Bataille.
"Lutai
como fortes até morrer no combate.
Não
estais aqui para outra coisa, senão para pelejar"
Não vos
espanteis das muitas coisas que é necessário considerar antes de iniciar esta
viagem divina, caminho real para o céu. Indo por ele, ganha-se inestimável
tesouro. Não é muito que, a nosso parecer, custe caro. Tempo virá em que se
entenda como tudo é nada em comparação de tão grande prêmio.
Voltando
agora aos que o querem seguir sem parar, até o fim, até chegar a beber desta
água de vida, direi como se há de principiar.
Importa
muito, e acima de tudo, uma grande e firme determinação de não parar até chegar
à fonte de água viva, venha o que vier, suceda o que suceder, custe o que
custar, murmure quem murmurar, quer chegue ao fim, quer morra no caminho, ou
falte coragem para os sofrimentos que nele se encontram. Ainda que o mundo
venha abaixo havemos de prosseguir. (...)
Por
conseguinte, nada de temores. Nunca façais caso da opinião alheia. Olhai que
não estamos em tempo de se dar crédito a todos, mas só aos que realmente se
conformam à vida de Cristo. Procurai a limpeza de consciência e humildade,
desprezo de todas as coisas do mundo e fé inabalável no que ensina a santa igreja. Ficai seguros de estar no bom caminho. Deixai-vos de temores,
repito, onde não há que recear. Se alguém procurar assustar-vos, declarai-lhe
humildemente vosso caminho.
Extraído de Jesus,Santa Teresa de. Caminho da Perfeição. Paulus Editora, 1979. capítulo 21.
Vossa sou, para
vós nasci:
Que quereis
fazer de mim?
Soberana
Majestade
E Sabedoria
Eterna,
Caridade a
mim tão terna,
Deus uno,
suma Bondade,
Olhai que a
minha ruindade,
Todo amor,
vos canta assim:
Que quereis
fazer de mim?
Vossa sou,
pois me criastes,
Vossa, pois
me resgatastes,
Vossa, pois
me atraístes
E porque me
suportastes;
Vossa, pois
me esperastes
E me
salvastes, por fim:
Que quereis
fazer de mim?
Que quereis
fazer de mim?
Eis aqui meu
coração:
Deponho-o em
vossas mãos:
Minhas
entranhas, minha alma,
Meu corpo,
vida e afeição.
Doce esposo,
meu Redentor,
A vós
entregar-me vim:
Que quereis
fazer de mim?
Que quereis,
pois, bom Senhor,
Que faça tão
vil criado?
Que missão que
haveis dado
A este
escravo pecador?
Amor doce,
doce amor,
Vede-me
aqui, fraca e ruim:
Que quereis
fazer de mim?
Dai-me a
morte, dai-me a vida,
A saúde ou a
doença
Dai-me honra
ou desonra
A guerra, ou
a maior paz,
A fraqueza
ou a paz plena,
A tudo isso,
digo sim:
Que quereis
fazer de mim?
Vossa sou, para
vós nasci:
Que quereis fazer de mim?
Vossa sou, para vós nasci - Teresa d'Ávila