quinta-feira, 9 de março de 2017

As sementes perdidas - Thomas Merton




“ Cada momento e cada acontecimento na vida do homem aqui na terra plantam em sua alma uma semente. Pois, assim como o vento leva milhares de sementes aladas, assim também cada instante traz consigo sementes de vitalidade espiritual que vêm pousar imperceptivelmente nas mentes e caracteres dos homens. A maior parte dessas incontáveis sementes morrem e ficam perdidas, porque não estão os homens preparados para recebê-las. Pois sementes como essas não podem germinar a não ser na boa terra da liberdade, da espontaneidade, do amor.

Esta não é uma ideia nova. Cristo, na parábola do semeador, muito tempo atrás, nos disse que "a semente é a palavra de Deus". Nós frequentemente pensamos que isto se aplica somente à palavra do Evangelho, como formalmente pregada nas igrejas no domingo... Mas cada expressão da vontade de Deus é, de alguma forma, uma "palavra" de Deus e, portanto, uma "semente" da nova vida. A realidade em constante mudança no meio em que vivemos deveria nos despertar para a possibilidade de um diálogo ininterrupto com Deus...

Devemos aprender a reconhecer que o amor de Deus nos procura em cada situação e procura o nosso bem. Seu amor imperscrutável procura o momento do nosso despertar.”

New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton (New Directions, New York), 1972. p. 14 e 15
No Brasil: Novas sementes de contemplação (Editora Fissus, Rio de Janeiro). 2001. p. 23 e 24

Não me move - Teresa de Ávila

Não me move,
Senhor, para Te amar
O Céu que me prometestes,
Nem me move o inferno tão temido
Para deixar, por isto, de Te ofender.


Tu me moves, Senhor!
Move-me ver-Te
Pregado em uma Cruz e escarnecido;
Move-me ver Teu Corpo tão ferido;
Movem-me Tuas afrontas e Tua morte.

Move-me, enfim, o teu amor.
E de tal maneira,
Que ainda que não houvesse Céu,
eu Te amaria;
E ainda que não houvesse inferno,
eu Te temeria.

Nada tens que me dar
para que eu Te queira,
Pois, mesmo que eu
não esperasse o que espero,
O mesmo que Te quero,
Eu te quereria. 



Teresa de Ávila
Quadro de Peter Paul Rubens (1577 – 1640)

terça-feira, 7 de março de 2017

Mosaico - Cláudio Sant'ana

Posso antever, vejo acontecer
Mas não consigo resistir
Creio na ilusão, troco minha porção
Por lentilhas que eu bem quis
E o remorso vem, morre em mim também
A ousadia e o ardor
Foge-me a canção, tranco o coração
Nas celas do temor

Tento disfarçar, risos pelo ar
Mas meu semblante entrega
Temo me enxergar, ver que já não há
Nada do que eu antes era
E o acusador ri de cada dor
Perco a paz, a fé e o chão
Penso que é o fim, tudo que há em mim
É só escuridão

Mas tua graça alcança-me onde quer que eu for
Dissipa o breu e faz manhã
Traz vestes brancas de justiça, vinho novo de alegria
Esperança no amanhã
Quebra meu coração, reúne os cacos um a um

Forma um mosaico em teu louvor
Transforma pedra e pó em uma obra prima
Na imensidão do teu amor
Transforma pedra e pó em uma obra prima
Na imensidão do teu amor
E o que era pedra e pó agora é prova viva
Na imensidão do teu amor