quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Sobre oração - Madre Teresa de Calcutá

"Eu sempre começo minha oração em silêncio, pois é no silêncio do coração que Deus fala.
Deus é amigo do silêncio - precisamos ouvir a Deus porque não é o que nós dizemos, mas o que Ele diz através de nós que importa.
A oração alimenta a alma - assim como o sangue é para o corpo, a oração é para a alma - e ela traz mais para perto de Deus.
Ela também lhe dá um coração limpo e puro.
Um coração limpo pode ver
Deus e pode ver o amor de Deus nos outros." 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Um Pássaro na Gaiola - Madame Guyón

Sou um passarinho, sem campos, sem ar
Na minha gaiola sento-me a cantar
Para Quem aqui me aprisionou.
Bem satisfeito prisioneiro sou
E assim, meu Deus, quero Te agradar.
Aqui, nada tendo para realizar,
Todo o longo dia só posso cantar.
As minhas asas Ele amarrou,
Mas o meu canto muito O agradou,
Ainda Se curva pra me escutar.
Tu tens paciência para me escutar,
E um coração pronto para a mim amar.
Gostas de ouvir meu rude louvor
Pois sabes que o amor, quão doce amor!
Inspira todo esse meu cantar.
Preso na gaiola não posso sair,
Mas minha prisão não pode me impedir
A liberdade do coração
Que sempre voa em Tua direção,
Minh´alma livre, a Ti vai se unir.
Oh! Que gozo imenso poder me elevar
Para as alturas a Ti contemplar.
Tua vontade e desígnio amar
Minha alegria neles encontrar,
Livre, em Teus braços me aconchegar

Vivo sem Viver em Mim - Teresa de Ávila

Vivo sem viver em mim 
E tão alta vida espero, 
Que morro por não morrer.  

Vivo já fora de mim, 
Depois que morro de amor, 
Porque vivo no Senhor, 
Que me quis só para si. 
Meu coração lhe ofereci 
Pondo nele este dizer: 
Que morro por não morrer. 

Esta divina prisão 
Do amor em que hoje vivo, 
Tornou Deus o meu cativo 
E livre meu coração. 
E causa em mim tal paixão 
Deus meu prisioneiro ver, 
Que morro por não morrer. 

Ai, que longa é esta vida!
Que duros estes desterros!
Esta prisão, estes ferros 
Em que a alma está metida! 
Só esperar a saída 
Causa em mim tanto sofrer, 
Que morro por não morrer.  

Ai, que vida tão amarga, 
Sem se gozar o Senhor!
Porque, se é doce o amor, 
Não é a esperança larga. 
Tire-me Deus esta carga, 
Pesada a mais não poder, 
Que morro por não morrer.  

Somente com a confiança 
Vivo de que hei de morrer, 
Porque, morrendo, o viver 
Me assegura minha esperança. 
Oh morte que a vida alcança, 
Não tardes em me aparecer, 
Que morro por não morrer.  

Olha que o amor é forte: 
Vida, não sejas molesta; 
Para ganhar-te só te resta 
Perder-te, sem que me importe. 
Venha já a doce morte, 
Venha já ela a correr, 
Que morro por não morrer.  

A vida no alto cativa, 
Que é a vida verdadeira, 
Até que esta não nos queira, 
Não se goza estando viva. 
Não me sejas, morte, esquiva; 
Só pela morte hei de viver, 
Que morro por não morrer.  

Como, vida, presenteá-lo, 
O meu Deus que vive em mim, 
se não perdendo-te a ti, 
para melhor poder gozá-lo? 
Quero, morrendo, alcançá-lo, 
Pois só dele é meu querer: 
Que morro por não morrer. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Oração do Milho - Cora Coralina

Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. 

Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. 

E de mim, não se faz o pão alvo, universal.
O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.


Sou de origem obscura e de ascendência pobre. 

Alimento de rústicos e animais do jugo.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. 

Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paiois.

Sou o cocho abastecido donde rumina o gado
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o carcarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.

Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde
Sou o milho.



E eu, quem sou???